AS PESSOAS PODE ATÉ DUVIDAR DO QUE VOCÊ DIZ, MAS ELAS ACREDITARÃO NO QUE VOCÊ FAZ
Lewis Cass
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A VOCÊ PAI OU MEMBRO DA APAN VALE APENA LER.............CLUBE GOLFINHO....UM SONHO,



Se você é membro da APAN, leia a meteria e reveja seus ideais, e confira onde a união pode levar um grupo de pais UNIDOS!!!



Enquanto o Brasil se prepara para sediar sua primeira Olimpíada, em 2016, uma estrutura que serviu por mais de 20 anos para formar campeões da natação brasileira está abandonada, servindo de criadouro de mosquitos e outras pragas urbanas. O Clube do Golfinho, que foi referência da natação de alto nível dos anos 70 ao final dos 90 do século passado, hoje se tornou um problema para os moradores próximos ao antigo número 28 da Rua São Salvador, no bairro Pilarzinho.
Foi ali que na metade dos anos 70 se tornou concreto o sonho de um grupo de pais abnegados que se juntou para criar um espaço para seus filhos treinarem e competirem de igual pra igual com o melhor da natação do País.
O Clube do Golfinho, porém, começou a ser gestado alguns anos antes, dentro do Centro Israelita do Paraná. A semente havia sido trazida da Sociedade Água Verde, ainda nos anos 60. Era na piscina desse clube, que filhos de dezenas de famílias curitibanas davam na época suas primeiras braçadas. Muitos garotos ficaram apaixonados pelo esporte devido à forma de ensinar do técnico Paulo Falcão.
A Água Verde, porém, encerrou suas aulas de natação. Paulo foi desligado e logo contratado pelo Centro Israelita do Paraná, e atrás dele foram os “órfãos do Água Verde”.
Apesar do entusiasmo do técnico e dos atletas mirins, o treino no Centro Israelita era feito de forma precária. Isso porque se tratava de um clube social e os jovens atletas tinham que dividir a piscina com os sócios que buscavam na água só diversão. Mesmo assim, a determinação das famílias fez com que se criasse um grupo forte. Dessa união surgiu a idéia do nome Golfinho para designar a equipe.
»» José Finkel
Dentre os pais dessa gurizada, estava uma pessoa que deixaria marcas indeléveis na história da natação paranaense, o empresário Berek Kriger.
Sua relação com a natação começou quando pôs os filhos Joel, Thalma e Ilana para aprenderem a nadar na Água Verde. Em pouco tempo, se tornou o presidente da Associação de Desportos Aquáticos do Paraná, e já tinha contatos e o respeito dos principais dirigentes do setor no Brasil.
Foi com essa bagagem que, em 1972, ele criou o Troféu José Finkel, que se tornaria um marco na natação competitiva do país, e que este ano chegou à sua 39ª edição, como um dos principais torneios nacionais.
A idéia surgiu após um fato trágico com um dos atletas do Israelita. José Finkel tinha 17 anos e era a principal promessa paranaense até então. Era o melhor peitista do Estado e quem o acompanhava sabia que era questão de tempo para ele se tornar um destaque nacional.
Mas não houve tempo. Aparentemente sem motivos, ele começou a se sentir mal. Exames detectaram um câncer linfático no jovem. A morte veio em poucas semanas e com ela uma imensa comoção, que provocou inclusive uma debandada de atletas do israelita, pois havia quem creditasse a doença de Finkel ao treinamento nas águas frias do clube.
Arrasado com a morte do jovem atleta, Berek, porém, viu que a melhor forma de homenageá- lo seria criar um troféu com o seu nome. Então, mobilizou a nata da natação nacional para apoiar sua idéea. O argumento usado por Berek foi que o Brasil não era competitivo porque no inverno a natação praticamente parava durante o inverno e que era justamente nessa época que aconteciam as principais competições no Hemisfério Norte. Daí a necessidade do Brasil ter um campeonato de inverno. A sugestão foi bem acolhida, foi instalado um sistema de aquecimento nas piscinas do Israeleita, e já na primeira edição o José Finkel teve a participação dos principais clubes do Rio e São Paulo.
Mas, embora o sucesso da iniciativa, as dificuldades no Israelita continuavam. No inverno, tudo bem. Mas, no verão, os jovens atletas usavam cinco das seis raias da piscina, tomando o espaço dos sócios. Foi aí que a diretoria do Israelita chamou os pais e deu um prazo para que encontrassem uma solução.
»»O início
Berek, então, propôs uma ação que, para alguns inicialmente, pareceu um delírio: criar o primeiro clube do País exclusivo para o ensino da natação. Boa vontade havia, faltava o restante.
Júlio Gomel, conceituado médico urologista e que tinha então o filho Flávio dando suas primeiras braçadas no Israelita, conta que Berek então juntou mais cinco amigos: além dele, Abrão Fucks, Mauro Prieto, Ivan Gubert e Kozo Kazai, e propôs o seguinte: comprarem um terreno, dividir uma parte - onde construiriam algumas casas para comercializar -, e com isso bancar o restante do terreno que seria doado para o Clube.
Foi escolhido um terreno de 16 mil metros quadrados da planta Bortolo Gava, no Pilarzinho. A área se resumia a um imenso matagal. Nem rua em frente havia. Pouco menos da metade ficou para os compradores e o restante, 8 mil e 312 metros quadrados, foi doado para o Golfinho.
O espaço estava garantido. Faltavam as piscinas.
Para levantar os recursos, os pais mobilizaram outros pais e os amigos e em pouco tempo estavam vendidos 250 títulos do futuro clube.
Além disso, todos ajudavam como podiam.
Pais arquitetos fizeram o projeto, pais engenheiros acompanharam a obra, outros mantinham contato com autoridades para conseguir ajuda. Foi assim que o então prefeito, Saul Raiz, mandou máquinas para arrumar o terreno e fazer as escavações para as piscinas. Em pouco tempo, começava-se a construção de três piscinas, uma de 25 metros e duas outras menores, para o aprendizado da gurizada.
»»Prisão
Berek, porém, não pôde acompanhar de perto boa parte das obras. Socialista, ele participava de um grupo de intelectuais locais contrários à ditadura instalada no país na década passada. Por isso, já havia sido preso em 1964, 1966 e 1967, mas sempre só por alguns dias.
Agora, acusado de financiar pessoas ligadas à luta armada, ele ficaria detido por oito meses no quartel do Exército, na Marechal com a Getúlio Vargas, até ser julgado e considerado inocente.
Mas, poucos sabem que mesmo enquanto estava preso, Berek saía do quartel para visitar a família e dar um pulinho no Pilarzinho para ver como estavam as obras. Não se sabe ao certo como ele conseguia o “indulto”, mas o fato é que de vez em quando avisavam a família, e a filha Thalma ia buscá-lo de carro em frente ao quartel e, depois das visitas, levava-o de volta.
Numa dessas visitas, foi homenageado pelos atletas e demais dirigentes, sendo jogado na piscina recém-construída. O Clube seria inaugurado oficialmente em dezembro de 1975.
Amigos dizem, porém, que depois da prisão ele nunca voltaria a ser como antes, inclusive se afastando um tempo da natação e da cidade.
Ele continuaria ligado ao Golfinho, porém, até o início dos anos 80. Em 81, começaria a construir o Centro de Natação Berek Kriger, inaugurado em 1982 e que funcionaria até 2002, um ano após sua morte, em 29 de abril de 2001.
»»O auge
Antes de se afastar, porém, Berek havia deixado toda a estrutura para o Golfinho crescer. Foi ele, junto com o vice Júlio Gomel, que buscaram na Argentina, o técnico Carlos Fernandez, na época já um cobra na formação de nadadores.
Berek também teve a felicidade de ver sua filha, Ilana, bater o recorde sul-americano dos 200m costas, em 1977. Em 1979, seria inaugurada a piscina olímpica de 50 metros, marco na história do clube.
Nos anos seguintes, bater recordes no golfinho se tornaria comum. O Clube se firmaria na década seguinte como uma das forças da natação brasileira.
»»O declínio
O sucesso externo, porém, criou brigas internas. Alguns dizem que pais que não tinham os filhos entre os primeiros começaram a questionar a atenção dada a seus rebentos, criando cisões. Outros apontam a má administração.A maioria que acompanhou a história do clube, porém, concorda que o grande motivo do declínio foi a saída dos pais fundadores. Conforme os filhos cresciam e encerravam suas carreiras nas piscinas, eles também foram se afastando. As dívidas do Golfinho levaram a sua sede a ser incorporada pela Sociedade Juventus, que também afundada em dívidas com a Previdência, teria o imóvel leiloado em setembro de 2003. Atualmente, o imóvel está indisponível pela Justiça e pesa sobre ele uma dívida, entre tributos federais e de IPTU, em torno de R$ 2 milhões.
Poderia ser o triste fim do clube que fez história na natação paranaense e brasileira. Porém, está em curso um movimento para que a estrutura deixada pelo Golfinho seja resgatada pelo Poder Público para atender à população e, quem sabe, formar novos campeões. Seria um final feliz bem apropriado para um sonho de um grupo de curitibanos que foi, durante um tempo, um exemplo nacional.
Ilana, a primeira recordista
Antes do Golfinho, nenhum nadador paranaense tinha conquistado destaque na natação nacional. A primeira a realizar a façanha foi Ilana Kriger. Não por acaso, filha de Berek, o mentor do Golfinho. Aos 17 anos, estudando e morando em São Paulo, mas nadando pelo Golfinho, ela bateu o recorde sul- -americano dos 200 metros costa.
Quando a menina Ilana entrou na piscina do Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte, no dia 3 de fevereiro de 1977, sabia que ficaria entre as primeiras. Pois meses antes, no campeonato estadual que a classificou para o Troféu Brasil de Natação, ela havia feito o tempo de 2 minutos, 29 segundos e 11 décimos, apenas um segundo e 60 décimos acima do recorde que pertencia a Rosamaria Prado, do Andradina Tênis Clube. Mas não imaginava que 2 minutos, 25 segundos e 88 décimos depois, monopolizaria a atenção de todos que acompanhavam o primeiro dia de provas do principal campeonato nacional.
Isso numa competição que tinha, entre outros destaques, Djan Madruga, o primeiro nadador brasileiro a bater um recorde olímpico.
Ao repórter do jornal O Globo que cobria o evento, ela disse que não esperava tanto assédio após a prova. “Estou confusa. Não sabia que um recorde é tão importante. Estou impressionada com número de pessoas que se aproximam de mim, para conversar e entrevistar. Desculpe, se não responder direito às perguntas”, comentou ela.
Seu desempenho também garantiu sua presença na Copa Latina, que seria realizada em Roma, em março, e no qual ela voltaria a bater o recorde, baixando- o para 2:25:20.
Apesar da pouca idade, ela já computava dez anos de competições, incluindo três participações internacionais, no Chile, Uruguai e França. Seus ótimos resultados, porém, não foram suficientes para mantê-la na natação.
No mesmo ano se mudaria para a Califórnia, nos EUA. Hoje, mais de 30 anos depois, ela explica que o que pesou para a sua saída precoce foi a falta de infraestrutura que encontrou no clube norte-americano. Pelos resultados que teve por lá, sentiu que não conseguiria um bom desempenho no ano seguinte.
Cansada da rotina de treinos, resolveu, então, dedicar-se somente aos estudos. Passou no vestibular para o Curso de Desenho Industrial na PUC e voltou a morar em Curitiba. Hoje é a diretora de Varejo na Área de Tecnologia Educacional. do Grupo Positivo.
A lembrança dos tempos do Golfinho, porém, continua viva em sua memória. Assim como o esforço e a dedicação de seu pai e dos demais fundadores do clube para transformar a cidade numa potência da natação. É por isso que ela torce para que o poder público encampe o que sobrou do clube e o use para prestar um serviço à comunidade, ensinando a natação para as novas gerações.
Uma forma de manter viva a memória de quem conseguiu transformar um sonho numa poderosa realidade.

Entre os melhores do país
Nos primeiros anos, o Golfinho reinou absoluto no Paraná; depois, conquistou destaque nacional
As águas do Golfinho foram férteis na criação de campeões. Com o recorde quebrado por Ilana, em 1977, o clube de Curitiba mostrou ao que veio. Nessa época, com apenas dois anos de sua inauguração oficial, os atletas do clube já detinham a maioria dos recordes paranaenses, capitaneados primeiramente pelo técnico argentino Carlos Fernandez e depois por Leonardo Vescovo, também argentino, e o campeão brasileiro Ilson Austuriano. Junto com a filha de Berek, Ênio Aragon, nos 100 metros livre, Daniel Wolokita, nos 100 borboleta e Carla Sprengel, também nos 100 borboleta, foram os principais destaques da primeira geração do Golfinho.
Outros que já faziam bonito ou que fariam nos anos seguinte eram Fabio, Maria e Bruno Miraglia, Christiane Mueller, Mário Romanó, Hilton Zattoni, Luiz Roberto e Ana Lúcia Ratto, Mario Lopes, Priscilla Grocoski, Cláudia Surigi, Antônio Paula Filho, Izabella de Paula, Mônica Prieto, Patrícia Filizola e Oscar Monteiro; e também Gilberto Krieger, Jayme Wolokita, Antonio Carlos de Paula Soares, Celso Jugend, Suzanne Soifer, Marcia, Ilona e Liliane Naday, Katia Weigang, Regina Iorio e Silvia Franzoni.
Em pouco tempo, bater recordes paranaenses se tornou rotina para aquele pessoal. Tanto que ainda em 5 de dezembro de 1976, o clube promoveu o I Festival de Recordes do Paraná. Participaram clubes de todo o Estado que tinham nadadores em condições de bater marcas paranaenses.
Foram 22 tentativas, das quais surgiram 16 quebras de recordes estaduais. Os golfinenses foram responsáveis por 13. Em segundo ficou o Curitibano, com 2; e em terceiro, o Olímpico de Maringá, com um.
»»Conquistando o Brasil
O domínio no Paraná já estava selado. No cenário nacional, os atletas do Golfinho foram galgando degraus ano a ano. No final dos anos 70, o clube já figurava entre o sexto e o sétimo melhores do país. O grande salto rumo aos principais pódios nacionais foi dado a partir da contratação do técnico Reinaldo Dias, descoberto pelo golfinense e jornalista Borell Du Vernay no interior de São Paulo. Seu auxiliar era um ex-atleta do clube, Daniel Wolokita .
Em pouco tempo, o Golfinho já batia clubes tradicionais, como o Minas, a Hebraica, Vasco da Gama e Andradina . O auge chegaria em 1986, quando passaria o poderoso Pinheiros, de São Paulo, e assumiria a segunda posição no ranking da natação nacional, atrás somente do então imbatível Flamengo.
Nesta época, o Golfinho teve seu time mais poderoso.Christiano Michelena, Eduardo de Poli e Rogério Romero, três futuros atletas olímpicos, puxavam a equipe, que trazia ainda Cristiane Spieker dos Santos, Cláudia Sprengel, Priscila Grocoske, Felipe Michelena, Flávio Gomel, Patrícia Koglin, Ana Júlia Borell, João Carlos Borell e Miriam Arthur.
O hoje arquiteto Felipe Michelena lembra a emoção que foi desbancar o até hoje fortíssimo Pinheiros no Troféu Brasil de 1986, disputado no Rio de Janeiro. “Só não fomos campeões, porque nossa equipe levou apenas 26 atletas, contra 40 que disputaram pelo Flamengo, que ficou com o primeiro lugar”, conta.
»»Aplauso especial
O desempenho dos paranaenses foi acompanhado com entusiasmo pela lenda da natação brasileira, Maria Lenk, que hoje nomina o principal troféu nacional, e que na época tinha 71 anos. Flamenguista, mas acima disso, apaixonada pela natação, ela vibrou nas arquibancadas com a atuação do Golfinho. “Isso colocou a gente nas alturas”, recorda Felipe.
No ano seguinte, mostrando que a posição que chegara no ranking nacional não foi por acaso, o Golfinho voltou a se confirmar como o segundo melhor do país. Inconformado com a perda da posição, o Pinheiros tentou de tudo para superar os paranaenses.
Para tentar dar o troco, os paulistas buscaram um reforço de peso: o medalhista olímpico Ricardo Prado. O reforço, porém, não foi suficiente para superar os abnegados paranaenses, que mantiveram a posição conquistada.

Uma rivalidade produtiva
Golfinho X Curitibano. Essa rivalidade marcou época na natação paranaense e foi em boa parte a partir dela que se lapidaram os primeiros campeões do Estado. Hoje reinando absoluto na formação de craques das piscinas no Paraná, o Curitibano deve grande parte de sua trajetória vitoriosa aos embates travados ainda no início da década de 70 com o irmão do Pilarzinho.
Muitos dos primeiros destaques do Curitibano, inclusive, deram suas primeiras braçadas nas águas do Golfinho. Renato Ramalho, atual diretor financeiro do Curitibano, foi um deles. Representando o Brasil nas olimpíadas de 1988 e 1992, Renato é hoje um dos sócios de um dos principais nadadores brasileiros de todos os tempos, Gustavo Borges, na rede de academias GB.
Seu pai, Joel Ramalho, foi um dos fundadores do Golfinho. Ainda na primeira fase do Clube, porém, Joel entrou em rota de colisão com o técnico de então, o argentino Leonardo Vescovo. Ele considerava que o treinamento dado por Leo era puxado demais para as crianças. Joel achava que isso poderia trazer sérios problemas para os atletas na fase adulta. Isso o fez deixar o clube, levando Renato, então com 9 anos, para o Curitibano. Renato logo se destacaria, indo anos depois para o Flamengo, onde conseguiria espaço na seleção brasileira. Anos depois, Leó também iria para o Curitibano, onde permanece até hoje, como personal trainer.
Fernando Magalhães, bi-campeão do Troféu Brasil (50 livre) e recordista brasileiro absoluto dos 100 livre nadou em Curitiba só pelo Curitibano, e hoje é o supervisor das academias GB. Mas diz que sempre teve carinho pelo arqui- -rival. “Sou um grande admirador da história do Golfinho. Gostaria muito de ver aquele espaço sendo usado em prol da sociedade e celebrando os craques da natação que passaram por ali”, diz ele.
Entre os ex-atletas, é unânime que a rivalidade na verdade se restringia às piscinas, mantendo-se sólidas amizades entre os representantes dos dois clubes. Felipe Michelena lembra que o problema eram os pais, que ficavam brigando à beira da piscina nos campeonatos, chegando alguns a quase irem às vias de fato pelos seus rebentos. O que, felizmente, dizem que nunca aconteceu.

Entre os melhores do mundo
Nos anos 70, o Golfinho recebeu a visita dos melhores do planeta
Hoje, César Cielo e companhia vinda um pouco antes já marcaram território na natação mundial.E há paranaenses que são promessas de medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, como Henrique Rodrigues, 19 anos, que começou na escola de Natação Amaral, de Curitiba, e que hoje defende o Pinheiros. E Alessandra Marchioro, 17 anos, do Clube Curitibano.
Em 1976, porém, o Brasil tinha uma participação bem mais modesta no cenário mundial. Rômulo Arantes, Marcos Mattioli, Jorge Fernandes, Cyro Marques e Djan Madruga eram os expoentes nacionais. Todos com bons desempenhos, mas nenhuma medalha olímpica, o que só viria a acontecer nas Olimpíadas de Moscou, em 1980, quando conquistariam o bronze nos 4 X 200 metros livres.
E se o Brasil aparecia pouco, o Paraná nem existia nas competições mundiais. Mas, foi em dezembro de 1976 que o maior técnico do mundo e alguns dos principais nadadores norte-americanos vieram ao Pilarzinho e conheceram o que aquele grupo de curitibanos vinha fazendo no número 28 da Rua São Salvador.
A convite de Berek Kriger, a delegação norte-americana da Universidade de Indiana, chefiada por James “Doc” Counsilmann, deu aulas e participou de uma competição amistosa com os jovens atletas do Golfinho. Aos 56 anos, Doc era uma lenda viva norte-americana.
Piloto, foi considerado herói da Segunda Guerra ao chocar seu avião contra os alpes da Iugoslávia, mas salvando toda a tripulação. De volta à vida civil, além de vários clubes, treinou a delegação daquele país nas Olimpíadas de 64 e 76, quando das 24 medalhas de ouro disputadas levou 21. Dois anos depois da visita ao Golfinho, seria o homem mais velho a cruzar nadando o Canal da Mancha.
Entre os nadadores que Doc trouxe ao Golfinho veio o primeiro do mundo a nadar os 100 metros em menos de 50 segundos, Jim Montgomery.
Doutor em educação física, Doc Counsilmann revolucionou o treinamento dos atletas. Sua obra mais conhecida, a Ciência da Natação, lançada em 1968, se tornou uma bíblia para treinadores do mundo todo. E foi parte dessa técnica que ele ensinou em aulas e palestras para a equipe do Golfinho.
»»Vitória surpreendente
No mesmo ano, só quem em abril, o Golfinho havia recebido outra visita ilustre. A equipe de Mission Viejo, Califórnia, então uma referência mundial na natação, também veio trazer um pouco de sua experiência para os jovens atletas curitibanos. Entre os destaques da equipe, Jesse Vassalo, 15 anos, futuro recordista mundial e que só não foi medalhista olímpico porque os EUA boicotariam os Jogos Olímpicos de Moscou em 1980. Mas nos jogos paralelos que os americanos realizaram naquele ano, registrou melhor tempo nos 200 e 400 metros do que os dois medalhistas de ouro de Moscou.
Outros destaques eram os campeões americanos Alice Browne, Maura Campiom, Dawn Rodighiero e Cliff Clifton.
Após as palestras e aulas, os norte- americanos participaram de uma competição amistosa com os atletas locais. A diferença de nível das duas equipes fazia crer que os americanos ganhariam com folga todas as provas. O público que lotava as arquibancadas do Clube do Golfinho naquela noite de 4 de abril de 1976, porém, teria uma grata surpresa.
Das oito provas individuais, os atletas da Mission Viejo realmente ganharam fácil sete delas. Mas, justamente nos 100 metros livres, a mais nobre e importante prova da natação, em vez do favorito Cliff Clifton, quem chegou em primeiro foi um golfinense. O jovem Ênio Aragon não se intimidou diante da fera americana e cravou 55 segundos e 78 décimos, contra 57:04 de Cliff.
Mais surpreso que o público, que vibrou intensamente nas arquibancadas do Pilarzinho, Cliff procurou justificar o mau resultado, atribuindo-o às “comidas pesadas” ingeridas na sua estada em Curitiba, incluindo uma feijoada.
Em que pese a dieta do atleta norte- americano e o fato de ser uma prova amistosa, o que ficou para a história é que o campeão daquele dia – ou melhor, daquela noite - foi Ênio Aragon.

O apagar das luzes
O declínio do Golfinho começou ainda no início dos anos 90, mas até pouco tempo antes de ser fechado, em 2003, ainda continuou prestando um serviço importante para a comunidade. Homero Cachel, renomado técnico, mestre em Educação Física e uma referência no Triathlon mundial, atuou por mais de 10 anos no Clube. Nos últimos tempos, havia arrendado o Golfinho junto ao Juventus e, além da formação de triatletas, ele desenvolvia também um trabalho voltado às crianças carentes da região.
Investindo recursos próprios que conseguira como professor, ele atendia nos últimos tempos a 176 crianças. O trabalho foi interrompido quando o imóvel, devido a dividas do Juventus junto ao INSS, foi a leilão.
José dos Santos, que hoje trabalha na Loja Toque do Sol, ao lado do Golfinho na Rua São Salvador, trabalhou por seis anos na área de serviços gerais e manutenção do Clube, e conta que com o novo dono, houve uma mudança radical no atendimento.
“Para economizar, eles mandavam desligar as caldeiras, era uma judiação para os velhinhos que faziam hidroginástica”, conta. Jocélia Santana, também hoje funcionária da Toque de Sol, trabalhava como secretária da administração. Ela conta que logo após o leilão, o advogado Luiz Fernando Comegno apresentou-se como representante do novo dono e passou a administrar o Clube. Na primeira semana, lembra, já começou a quebrar os vestiários, afirmando que tudo passaria por uma reforma geral. Anunciou tempos depois que o Clube seria fechado temporariamente para as obras de melhoria. Na tarde do dia 30 de julho, reuniu os cerca de 15 funcionários e informou que todos seria desligados, mas que seriam recontratados quando o clube reabrisse. Mas isso nunca aconteceu. Alguns conseguiram receber o que tinham de direito, outros foram à Justiça e até hoje ainda esperam.

A força da família
Se para os motivos que levaram ao fim do Golfinho há muitas versões, para explicar o sucesso do clube há um consenso. Todos que participaram dele são unânimes em afirmar que a base de tudo foi a união da “família Golfinho”. Júlio Gomel, um dos fundadores e primeiro vicepresidente do Clube, lembra que essa característica era tão forte que chamava a atenção de quem vinha de fora.
Ele conta que na realização da primeira edição do José Finkel, em 1972, ainda no Israelita, um dos destaques infantis foi o menino Ricardo Prado, que aos 7 anos já era campeão brasileiro pelo Pinheiros (SP) e que futuramente seria medalhista olímpico. Ao fim do torneio, o pai de Ricardo, Rui Prado, impressionou-se com o que o pessoal de Curitiba oferecia aos visitantes. Entre outras coisas, o Golfinho bancou um jantar para todos os atletas e dirigentes no Madalosso.
E Rui fez um comentário premonitório: “Se vocês conseguirem ter a mesma união que têm fora da piscina, dentro dela, serão imbatíveis”.
O trabalho pelo Golfinho envolvia toda a família dos atletas. As mães acordavam de madrugada, para estarem com os filhos no Pilarzinho às 5 horas da manhã para os primeiros treinos. Enquanto os meninos treinavam, elas preparavam o lanche e os uniforme de escola. Em seguida, levavam as crianças para a escola e os traziam novamente após as aulas para o treino da tarde.
Rosa Kriger, esposa de Berek Krieger e mãe de Ilana, Joel e Thalma, era uma delas. Além dos treinos diários, elas acompanhavam os rebentos nas viagens para participar de torneios por todo o Brasil.
As viagens eram bancadas pelos próprios pais, e não havia alojamento precário ou cansaço que fizesse as mães desanimarem.
Hoje, décadas depois, essa união continua forte entre os que viveram aquela época. Muitos continuam até hoje no esporte, nadando em competições máster ou dirigindo atletas. Vários montaram ou trabalham em academias, outros buscaram novos caminhos profissionais e se contentam em verem os filhos dando suas primeiras braçadas.
Grande parte mantém a rede de amizades iniciada naquele tempo. Ou seja, para muitos, o Golfinho não acabou.

Uma história que ainda não acabou
Moradores e ex-atletas se mobilizam para que o Golfinho volte a funcionar
Muitos acharam que a história do Clube do Golfinho havia acabado oficialmente em 2003, quando o imóvel foi arrematado em leilão do INSS, devido às dívidas com a Previdência tanto pelo clube quanto pelo seu incorporador, a Sociedade Juventus. Lorival Lincol Ferreira, que estaria morando nos Estados Unidos, foi quem arrematou a área, por R$ 600 mil, em 60 prestações.
Mas pagou somente a primeira, de R$ 10 mil. Devido a duas ações contra o devedor, o imóvel está hipotecado e penhorado em favor da União Federal. Então, há ainda a possibilidade de o Poder Público resgatar a área para servir à comunidade.
Quem afirma isso é o advogado João Carlos Flor, que coordena a comissão de moradores do Pilarzinho que luta para que a área seja revitalizada e passe a atender à população. A idéia surgiu das reuniões do Projeto de Desenvolvimento Local - coordenado pelo Sesi/Fiep e que reúne moradores que se interessam por resolver os problemas de sua comunidade. Foi esse grupo, formado também pelo corretor Jorge Luiz Kalnowski e o jornalista Douglas Fernandes, que passou a procurar o responsável pela área, para acioná-lo junto à saúde pública para que tomasse providências em relação aos focos de criação de mosquito do local. No levantamento do histórico do imóvel, descobriu-se a inadimplência e os processos contra o arrematante.
O advogado conta que, no processo de penhora, o imóvel foi avaliado em R$ 1.500.000,00. “Como há outras execuções na Justiça Federal contra o arrematante, a Procuradoria Federal poderia requerer a unificação dos processos a fim de consolidar a dívida e assim pleitear a adjudicação do imóvel (encampar a área), pois o montante dos débitos cobrados pelo Governo Federal supera o valor da avaliação”, explica.
Também existem execuções fiscais de cobrança do IPTU que somam mais de R$ 300 mil. Hoje as dívidas para regularização da área, entre débitos com a Previdência e com o Município, estão próximas de R$ 2 milhões e o imóvel está indisponível até que sejam saldadas.
»»Morosidade
O processo acionado pela Procuradoria Federal ficou paralisado de 2006 a 2008 porque Lorival Ferreira, representado pelo advogado Luiz Fernando Comegno, não era encontrado para ser intimado. Isso só ocorreria em 2008, mas curiosamente não pela dívida referente ao Golfinho, mas pelas custas processuais de uma outra ação devidas pelo arrematante.
»»Ainda há esperança
No último dia 28 de novembro, a comissão de moradores, reforçada por ex-atletas do Golfinho e pelo vereador Paulo Frote - que requereu a audiência -, reuniu-se com o prefeito Luciano Ducci, no Paço Municipal. Representando o Golfinho, estavam Ilana e Thalma Kriger, filhas de Berek; Ênio Aragon, Oscar Monteiro, Antonio Carlos de Paula Soares, filho de “Casico”, ex- presidente do clube; e Ester Proveller, do Clube Israelita.
A comitiva apresentou a situação do imóvel e pediu ao prefeito que estude a possibilidade de o Município assumir a área e transformá- la num centro de atendimento à população. Luciano Ducci disse que, junto com sua assessoria jurídica, irá estudar o caso para verificar o que é possível ser feito.
Enquanto aguarda, a comissão está promovendo um abaixo- -assinado para reforçar o pedido. A Federação de Desportos Aquáticos do Paraná (FDAP) apóia a iniciativa.
Seu presidente, Luiz Fernando Graczyk, que estava em Cascavel no Campeonato Estadual Mirim, já está repassando o abaixo-assinado. Destaque do Golfinho nos anos 80, Graczyk é pai dos nadadores André, 11 anos; e Alexandre, 16, que neste ano baixou, pelo Flamengo, o recorde brasileiro dos 100m batido por César Cielo em 2003.
O advogado João Carlos diz que, havendo a viabilidade da desapropriação, será um grande presente para a comunidade e, de certa forma, para toda a cidade, que terá preservada a memória de um clube que marcou a história da natação paranaense e nacional. (DSF)
Serviço: Para saber como participar do abaixo-assinado, acesse o site www.doquintal.com.br

A mensagem de um campeão
O paranaense Rogério Romero (*), único brasileiro a competir em cinco olimpíadas, nos mandou uma mensagem de Belo Horizonte, onde atua como secretário de Estado adjunto da Secretaria de Esportes e da Infância, contando sua relação com o Golfinho e a importância dele ser preservado:
»» “Caro Douglas,
A iniciativa é realmente muito importante e até relevante em diversos aspectos.
Primeiro: a memória do esporte, no caso a natação. Segundo: pensando-se nas Olimpíadas. E por último, mas não menos importante,: o desenvolvimento social da região já mencionado.
Minha experiência no Clube do Golfinho foi a melhor possível. Cheguei no início de 1986 e fui muito bem acolhido pela família do Golfinho. Sim, família, porque o sentimento era este mesmo, de pertencimento de algo maior que apenas uma equipe de natação. Foi quando descobri a trajetória, a história daquele que foi um clube exclusivo de natação. As vantagens neste modelo são óbvias, sem ter que “disputar” atenção com outras modalidades, seus dirigentes e o corpo técnico especializou- se. Tanto que, já no meu primeiro ano, o clube foi vice-campeão brasileiro, com um número acanhado de atletas, se comparado com as outras potências clubísticas.
Conquistei também, já ao final de 1986, minhas primeiras vitórias brasileiras, e minha primeira convocação para seleção juvenil brasileira.
A evolução atlética continuou e, em janeiro de 1988, conseguia meu primeiro índice olímpico. Esta façanha foi ainda mais significativa pois o campeonato foi realizado no próprio Clube do Golfinho, no Pilarzinho. Outras seleções e títulos vieram, até eu vir para o Minas Tênis Clube, em 1991.
Mas esta passagem por Curitiba certamente moldou meu caráter e definiu o que seria minha perseverança para o restante de minha longeva carreira esportiva. E, mais importante de tudo, as amizades que foram criadas, apesar da distância, continuam.
Isto, para mim, foi a maior conquista em Curitiba.”.
(*) Londrinense, Rogério Romero, nadou inicialmente na Acel, antes de vir para o Golfinho. É um dos três atletas do mundo a ter disputado 5 olimpíadas. Foi finalista em Seul-88, Barcelona -92, Atlanta- 96 e Sydney – 2000, nos 220 m costas, tendo batido 29 recordes sul- -americanos e 41 brasileiros em 27 anos de carreira. É recordista mundial na categoria 35+.

Dos bons tempos, só a lembrança
Quem nadou nas piscinas do Golfinho e hoje visita o local sente uma profunda tristeza.
Quem não o conheceu nos bons tempos não acredita que por ali passaram alguns dos melhores nadadores e técnicos do País, em apresentações que lotavam as arquibancadas do clube, em verdadeiras festas do esporte. Hoje o cenário é melancólico. O mato voltou a cobrir parte dos 8 mil metros quadrados do terreno. E viceja mesmo dentro das piscinas deterioradas e escurecidas pelo tempo. Onde nadaram astros do esporte, hoje poças d`água dão abrigo a focos de insetos.
Há lixo e detritos acumulados pelos cantos. No subsolo, as caldeiras que aqueciam a água estão apodrecendo. O setor administrativo foi depredado, documentos e fichas dos atletas formam um monte de lixo próximo à piscina olímpica.
Troféus, medalhas, fotografias, desapareceram.
Antes orgulho para os moradores vizinhos, hoje o local é motivo de preocupação. Primeiro pelo potencial foco de transmissão de doenças. E em segundo, pelo medo de que a área passe a ser usada como esconderijo de bandidos ou ponto para uso de drogas. Uma família está morando precariamente no local, sem fornecimento de energia elétrica, e afirma que está cuidando do terreno para o dono, impedindo invasões.
Os vizinhos mais antigos lembram com saudade dos dias em que havia campeonatos no local e as ruas ganhavam uma efervescência saudável, típica do esporte. José Eduardo, o Zé da Wap, que mora em frente aos portões do clube, é um dos que lamenta o fim das atividades. Ele chegou a nadar no local e acompanhou os tempos de glória e decadência do Golfinho. “É muito triste lembrar dos grandes atletas que passaram por aqui e ver como está hoje, abandonado, destruído. É muito triste...”, resume.

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